quinta-feira, 15 de setembro de 2011

zico & a tempestade no deserto

mais uma vez peço licença aos amigos leitores para
publicar também por aqui a coluna desta semana...

Arthur Antunes Coimbra assumiu a seleção iraquiana de futebol há três semanas. Estreou com derrota para a Jordânia, mas em seguida venceu Cingapura. Partidas válidas pelas Eliminatórias da Ásia à Copa de 2014.
Arthur Antunes Coimbra, o homem conhecido como Zico, aproveitou uma folga no calendário para, cá no Brasil, participar de ações de marketing e cuidar de interesses outros. Aproveitou também para dar entrevista ao diário carioca Extra, publicada esta semana. As palavras do velho ídolo chamaram a atenção pela contundência com que trata de sua saída do Flamengo há um ano. Reproduzo aqui três dos momentos de maior impacto...
1. Fui submetido a um inquérito dentro do clube. Desconfiaram de minha idoneidade depois de 40 anos de futebol, sendo que 20 foram passados dentro do clube. (...) É uma grande mágoa.
2. Não boto mais os pés lá no Flamengo. Nem no estádio. De maneira nenhuma.
3. Vejo se der (os jogos do Flamengo). Se não der, não tem problema nenhum. Domingo vi uma partida enquanto brincava com meus netos. Mas, se eu tiver que ir ao cinema ou levar meus netos a algum lugar, eu deixo de ver o jogo. Antigamente, eu parava tudo para assistir.
Vinte anos após deixar os gramados, Zico tinha voltado ao Clube de Regatas do Flamengo em maio de 2010. Seu retorno à Gávea durou quatro meses. Em setembro, ele entregava o cargo de diretor de futebol.
A presença de uma figura da envergadura de Zico incomodou as correntes políticas do clube e logo começou a fritura. Ele chegou a ser acusado por um tal Leonardo Ribeiro, vulgo Capitão Leo, ex-chefe de torcida e hoje presidente do Conselho Fiscal do Flamengo, de favorecer seu clube-empresa (o CFZ) e seus filhos em movimentações de jovens jogadores. (Entre esses jovens estava o atacante Rafinha, que saiu do CFZ e se tornaria, meses depois, um destacado campeão da Copa São Paulo pelo Fla.)
A presidente Patrícia Amorim, que convidara Zico para o cargo, não pôde ou não quis defendê-lo. Acostumada com as conciliações políticas dentro e fora do esporte, Patrícia Amorim, que também é vereadora da cidade do Rio, praticamente rifou Zico. Ela talvez não esperasse que a resposta dele, quando acuado, fosse simplesmente deixar o clube.
Daí assumiu o professor Vanderlei Luxemburgo como essa eminência parda, esse treinador que parece agir como manager. Mas a presidente nega que tenha dado plenos poderes a Luxemburgo, um sujeito de passado controverso. Agora que seu time entrou ladeira abaixo no Brasileiro-2011, sem vencer há mais de mês, com derrotas nas últimas quatro rodadas, Patrícia tem uma bela chance de mostrar qual é a verdadeira posição de Luxemburgo.
Quanto a Zico... O inquérito interno foi arquivado uma vez que conseguiram o que queriam com ele. E, dias depois de seu desabafo público, o Galo teve uma atitude mais gentil com os torcedores do Flamengo. Ele propôs, em simpático tom de brincadeira, a criação da torcida Fla-Iraque, para ajudá-lo lá longe.
Nem precisa. Perto do que Zico experimentou no Flamengo, o Iraque é pinto.