quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

vaisco 2 x 1 mengão (a chronicle)

juninho que me perdoe. ao contrário de seu colega gaúcho, o velho juninho sabe o que significa ser o principal jogador de um time. aliás, nossos fregueses vaiscaínos que me perdoem. pois é tão raro o vaisco vencer o flamengo, ainda mais num jogo de pega-pra-capar como este... mas, por favor, entendam que este clássico entrará para a históóória do desporto nacional como "o jogo de deivid".
o futebol tem dessas cousas. um baita jogo como o desta noite, com um primeiro tempo espectacular, com um placar justus ao seu final, estará indelevelmente marcado por um gol que não aconteceu.
um gol como o gol de pelé, ao driblar o mazurkievski, um gol que não houve. era leo moura descendo até a linha de fundo, driblando o beque do vaisco, caindo ao chão mas ainda conseguindo rolar a bola macia para deivid completar quase sobre a linha.
deivid. um abrazo.
valendo vaga na final da goanabara-2012, o clube de regatas do flamengo adentrou esta noite o estádio do engenhão com felipe para o gol; wellington e gustavo geladeyra na zaga, leonardo moura pela direita, junior cesar pela esquerda; airton e williams e renato pelé na cabeça de área, ronaldinho gaúcho mais à frente; vagner love e deivid para o ataque.
joel santana, como explicou à beira de campo, não quis reinventar a roda. daí o geladeyra no lugar de david braz. daí o retorno de renato pelé à equipe, daí o darío bottinelli invariavelmente sentando no banco. a roda, sabe?
mas vagner love, mais corajoso que seu treinador, tratou de incendiar esse time que, no papel, parecia bem caretinha. desde o primeiro instante, loverman chamou a bola, fez a rapaziada se mexer no ataque e - logo aos dois, três minutinhos - enquanto o gaúcho caía pra direita e levava junto a marcação - love puxou a bola pra sua canhota e meteu bronka lá de longe, lá de fora da grande área. era o retorno do artilheiro do amor.
um gol desses, logo no comecinho de um clássico decisivo, pode ser uma bênção. desde que o time entenda essa vantagem como uma salvaguarda para poder atacar mais, acuar o adversário ainda atordoado e liquidar a bagaça logo no primeiro round.
o flamengo até tentou. e mui possivelmente teria sido bensucedido. não contasse o vaisco da gama com juninho pernambucano. incrível o que esse senhor fez. há de se admirar um caboclo desses. que praticamente assumiu sozinho o controle da bola e, quebrando o ritmo que o flamengo estava a impor, começou sozinho a reerguer sua própria equipa. e foi ele mesmo, nem poderia ter sido qualquer outro, a aproveitar um suspiro na nossa marcação, a se valer de seis, sete metros de liberdade concedidos por um de nossos trinta e sete volantes, para meter um canudo lá do meio da rua. felipe chegou na bola, mas a soltou nos pés do centroavante.
o empate devolvia ao duelo seu ânimo incial. e o mengo estava na briga. daí em diante tivemos os melhores quinze, vinte minutos de bola rolando que eu presenciei nesta temporada. os dois times se atacavam de peito aberto. os dois arqueiros, prass e felipe, defendendo bolas à queima-roupa. foram vinte minutos do mais sensacional futebol que se pode exigir. puro arrebatamento.
foi quando leonardo moura desceu mais uma vez pela direita e abriu caminho até a linha de fundo, cruzando rasteiro pra deivid.
o que se seguiu foi tão inusitado, e tão desalentador, que o flamengo apagou.
poucas vezes vi na vida um time apagar daquele tanto. um brancão. de repente, éramos apenas o felipe contra a vaiscalhada inteira. caboclo dentro de campo nem deve ter tido noção do tempo a passar. até mesmo os jogadores do vaisco, talvez descrentes da sorte que lhes tocara, perderam aquele élan e deixaram passar a oportunidade de detonar o mengo ali mesmo naquele momento.
não sei o que aconteceu no vestiário, nunca saberemos.
sei que o flamengo tentou voltar a campo na maior hombridade. com deivid no ataque. e deivid ali ficou se arrastando feito alma penada por quinze minutos. e todos seus colegas tentando manter as aparências de naturalidade. como se não houvesse ali um zombie entre eles. até que o papai joel, certamente condoendo-se por dentro, tirou aquele morto-vivo de campo para dar entrada - veja você - ao bottinelli.
aí o flamengo tentou voltar ao jogo. mas já era tarde demais. um troço qualquer já tinha se perdido.
e nem era mais questão de espírito. me pareceu ser timing mesmo. como se tivéssemos virado o fio, deixado passar do ponto. o time nem jogava propriamente mal. a nossa zaga, alquebrada, estava a se comportar relativamente bem. quer dizer, isso até o geladeyra deixar aquela pelota passar por sobre sua cabeça e encontrar fagner e diego souza dentro da área flamenga a torpedearem felipe.
mas nem era mais questão de o vaisco ter feito o segundo gol. porque tu olhavas para o flamengo e só quem estava a se mexer, só quem aparecia pro jogo eram o love, o negueba e o galhardo. o love e mais dois meninos. tu olhavas para o flamengo em campo e já não encontravas mais justamente aquele sujeito que deveria ter sido o nosso juninho. aquele sujeito que recebe mais de um milhão por mês. aquele sujeito que usa a braçadeira de capitão sem merecê-la. tu sabes de quem estou a falar. aquele mesmo que deveria receber todas as bolas, mas que logo estava a se esconder pelos cantos, pelos desvãos do campo. como um velho e sábio boleiro que, em vez de usar os atalhos do campo para chegar na bola na hora certa, tomava esses atalhos para sumir de vista.
desta vez, ronaldinho gaúcho escapou. esta derrota será todinha de deivid.