quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

no deserto sem camelo

tomo a liberdade de reproduzir aqui a coluna de hoje no jornal.
nenhuma novidadinha pra quem lê o blogue diariamente, mas
serve como resumo: mengão for dummies, se quiseres assim...

Céus. Até o momento em que bato estas linhas, no início da tarde de ontem, seguia indefinida a situação de Ronaldinho Gaúcho no Flamengo. O time enfrenta o Real Potosí daqui a uma semana, na quarta-feira 25, valendo vaga à fase de grupos da Libertas-2012. Sabe-se lá quem vai entrar em campo depois da saída de Thiago Neves, da deserção de Alex Silva e dos escândalos do professor & bedel Vanderlei Luxemburgo.

Há exatinho um ano, o Corinthians rodou às portas da Libertas-2011 numa situação bem parecida: o time ainda todo desconjuntado. Caiu diante do Deportes Tolima e entrou pro folclore do futebol pátrio. Ronaldito aproveitou o climão e se aposentou. Roberto Carlos exilou-se na Rússia. A torcida quase pôs abaixo o Parque São Jorge.

E os bacanas do Flamengo nem sequer aprenderam com as mancadas alheias... De quem será o escalpo que os cartolas exibirão à torcida caso o Potosí seja o novo Tolima?

A grana miou, é o que eles dizem. Por isso o Flamengo não teve dez camelos para dar ao Al Hilal, em troca do Thiago Neves. Mas a Unimed teve. De nada adianta Patrícia Amorim, agora, fazer cara feia para o Fluminense, nem chamar o Neves de bobão.

A grana miou e o Flamengo também não tem vinte garrafas de vodka para mandar para o CSKA, em troca do Vagner Love. E assim o clube perdeu sua vez no mercadão de janeiro: espichando antigas novelinhas.

A grana miou porque a própria diretoria do Flamengo emperrou o clube...

Pode ser que Gaúcho não vá embora hoje ou amanhã. Mas o Flamengo começou a perdê-lo no dia em que ele chegou à Gávea. Pois, para tanto, Patrícia Amorim fechou um negócio com a Traffic. Veja que esperta ela foi: o Flamengo conseguiu o Gaúcho por apenas dois picolés, e a Traffic daria mais oito picolés. A Traffic, uma empresa amiguinha.

O Flamengo deixou a cargo da Traffic conseguir um patrocínio bem bonito ($) para o uniforme. Passaram-se oito meses e nada. Sem patrocinador, menos cobres no cofre. Menos cobres, menos poder de compra no mercadão. Simples assim. Então o Fla deu uma volta na Traffic e fechou patrocínio por sua conta e risco. A Traffic achou ruim — e parou de mandar aqueles picolés para o Gaúcho.

Oras, como pôde Patrícia Amorim abrir mão de ter total controle sobre a situação? Ao aceitar não pagar integralmente os picolés do principal jogador do time, do principal funcionário do clube, do principal garoto-propaganda da marca, o Flamengo permitiu que ele escorresse por entre seus dedos desde o primeiro dia.

Patrícia Amorim — talvez nem percebesse — regava ali a semente de uma crise financeira, técnica e política. Mas, no meu entender, não foi ela quem plantou a tal semente. Apenas tratou que ela germinasse. Essa semente foi plantada há tempos.

Em algum momento de sua história, o Clube de Regatas do Flamengo achou por bem deixar de “fazer os craques em casa”, como dizia o antigo lema. Um dos maiores clubes do futebol brasileiro decidiu que dali por diante venderia barato seus jovens jogadores & compraria caro os mais badalados jogadores que sua cobiça alcançasse.


(será que é mesmo?)