domingo, 30 de outubro de 2011

grêmio portoalegrense 4 x 2 mengão (a chronicle)

um espectaculo em dois mui distintos atos de quarenta e cinco minutos marcou a melankolica despedida do flamengo da corrida pelo título nacional de 2011.
e é notavelmente lírico & trágico que essa despedida tenha se dado no estádio olímpico. tenha se dado diante do grêmio portoalegrense. tenha se dado diante de um adversário brioso, ferido pela atitude do hoje principal jogador do flamengo.
oh, futebol, futebol...
o clube de regatas do flamengo, hoje, pela trigésima-segunda rodada do brazileiro-2011, enfrentou sua guerra particular com felipe ao gol; alex silva e wellington na zaga, leonardo moura pela direita, junior cesar pela esquerda; aírton e renato pelé na cabeça de área, thiago neves e ronaldinho gaúcho pelo meio; thomás e deivid no ataque.
a deserção de williams, na véspera do jogo, abrindo espaço para um flamengo mais ofensivo. pelé recuado para fazer companhia a aírton, neves e gaúcho mais soltos, e o garoto thomás entrando para botar a becayada do celso roth para correr. o professor luxerley apostou alto. e esteve para estourar a banca. podecrer.
no primeiro tempo, o flamengo jogou uma bola redonda que eu estava há meses para ver. aquela bola redondinha que só rola nas nossas mais desvairadas fantasias... impressão minha ou o ronaldinho gaúcho entrou na pilha total? e já foi dando passe de letra e chutando bola no travessão? impressão minha ou o menino thomás caía pela direita e caía pela esquerda sem escolher adversário? como se ainda estivesse jogando na equipe de juniores?
te dizer que a vontade de gaúcho e de thomás era tamanha, a tesão desses dois era tamanha, e era tudo tão bonito de se ver, que mesmo o mais sórdido vagabundo sangue de barata teria que entrar no clima. o time inteiro teve que entrar no clima desses dois. começaram a acontecer cousas estranhíssimas. deivid acertando jogadinhas de pivô. thiago neves pedindo bola pela direita. renato pelé subindo libre pela esquerda. leo moura e junior cesar - practicamente ao mesmo tempo - apresentando-se para manterem a bola no ataque.
e quero deixar claro que isso foi tão bonito que nem parecia ser nada combinado. não parecia truque. parecia apenas ser natural que o flamengo pegasse a bola pra si e, como ninguém queria ficar ouvindo vaias de um estádio abarrotado de gremistas, o caboclo tocava de primeira, se mexia, outro tocava de primeira, se mexia também, mais um tocava de primeira... e quando a defesa do grêmio tentava entender o que diabos se passava, já estávamos lá de cara com o arqueiro victor.
fizemos dois gols, com deivid e com thiago neves, depois de lindas costuras. a mais fina tapeçaria rubro-negra.
o futebol que eu via estava a me falar à alma.
depois desse gol de neves, trinta e poucos da primeira etapa, acho que sujeito se tocou. quero dizer, os próprios jogadores do flamengo, dentro de campo, passaram a se dar conta de que estavam abafando. é o que eu suponho que tenha ocorrido naquele instante exíguo, ínfimo, em que a suerte mudou de mãos. eles devem ter se apaixonado pela própria f*derosidade. e aí, meu chapa... e aí esqueceram que tinha outro time ali em campo. o tal do tricolor imortal. e que gremista nenhum ali estava diante de seu torcedor pra levar sacode. enfim. o despertar da besta.
andré lima, veja você, andré lima fez o primeiro gol do grêmio ainda na etapa inicial. e para que não ficasse a impressão de que aquilo foi mero acaso, porque pareceu ser mero acaso mesmo, mais uma pixotada do wellington, logo na primeira bola que andré lima, veja você, andré lima recebeu no comecinho do segundo tempo, ele meteu entre as canetas do renato pelé e marcou um golazo.
e aí acabou, flamengo. aquele encanto se quebrou. o que era um time vibrante e entrosado - de repente - voltou a ser aquela massa amorfa de gente, aquele punhado de jogador sem função definida, aquele amontoado de canela. enfim, o flamengo voltou a ser o flamengo dos últimos dois, três meses. o flamengo que todos nós conhecemos.
o professor luxerley já tinha tirado menino thomás do ataque pra meter menino muralha na cabeça de área. achando-se um sujeito esperto e prevenido, sabe? aquela velha estória de ganhar o meio de campo para, daí, atacar com mais equilíbrio.
pois bem, lux acordou e tentou desfazer o que tinha feito, trocando aírton por jael. francamente.
diego maurício ainda foi visto por ali. mas o flamengo caía aos pedaços. o terceiro gol do grêmio, que se fazia anunciar largamente, até demorou para enfim sair. a virada. o gol de douglas, dentro da nossa área, tonteando junior cesar, saiu exactinho no mesmo momento em que o corinthians paulista virava seu jogo contra o hawaii - e voltava à ponta da classificação. o mesmo momento. te digo isso com certeza porque os gritos corinthianos aqui n'aclimação pareciam estar todos a saudar douglas. e poucos minutos mais tarde, quando o mirales acertou aquela bicanka, o bairro inteiro era só silêncio.