quarta-feira, 27 de abril de 2011

horizonte 0 x 3 mengão (a chronicle)

e o williams fez um gol que nem o lionel messi.
caboclo recebeu no grande círculo a pelota. foi o renato pelé que a matou na caixa, deixou deslizar no gramado do domingão e disse pro williams - vai. o williams foi. abriu carreira e passou por um, passou por outro, entrou na grande área já driblando o arqueiro. e tocou pro barbante com uma serenidade e uma finesse que devem ter deixado deivid & wanderley, nossa dupla de ataque desta noite, enrubescidos de vergonha. ou deveriam.
foi o gol mais merecido desta temporada rubro-negra. e um perfeito desfecho para nosso pesadelo da última semana: o simpaticíssimo horizonte do ceará.
o horizonte, que foi até o rio de janeiro e fez o mengo dar vexame no engenhão, jogava esta noite por um modesto zero a zero em sua ciudad para avançar às quartas da copa do brazil-2011.
de modo que o clube de regatas do flamengo viajou até o ceará para correr atrás dos horizonteanos. e formou no estádio domingão com felipe ao gol; wellington e david na zaga, rafael galhardo na direita, rodrigo alvim na esquerda; williams na cabeça de área, renato pelé e darío bottinelli e thiago neves no meio; deivid e wanderley à frente.
para tu veres como o professor luxerley, de facto, é um sujeito bastante curioso. até esta noite, em vinte e poucas partidas na temporada, ele vinha alternando entre deivid e wanderley no chamado comando de ataque. a proverbial troca de seis por meia-dúzia. porque nenhum dos dois atacantes passa a menor confianza para ninguém, a não ser para os beques que os enfrentam. e hoje ele inventou de escalar os dois juntos. juntos.
abrindo a peleja com uma duplinha dessas, já ficava claro que o gol do flamengo, o primeiro gol do jogo, o gol mais importante do ano, o gol que nos livraria da guilhotinha, teria de ser feito por algum outro jogador, teria de ser feito de algum outro modo. bueno. foi assim que galhardo pegou uma pelota na ponta direita e, despretensiosamente, alçou para a grande área. onde o wanderley estava a se movimentar à sua maneira insinuante. era comecinho de jogo, seis ou sete minutos do primeiro tempo, galhardo ainda estava cheio de boa vontade. mas galhardo pegou mal na pelota, meio forte demais. wanderley fechava no primeiro pau, e a bola subiu muito, passou bem por cima de wanderley, deu uma curva sobre o arqueiro horizontino e foi cair - marota - lá no outro canto. costeando o ângulo oposto.
um golazo sem querer que pode ser atribuído ao sobrenatural de almeida, à forza do manto sagrado, à boaventura que acompanha os jovens ou a uma metafísica intervenção telecinética de ronaldinho gaúcho, que já fez parecido em copa do mundo. na dúvida, garoto galhardo agradeceu aos céus e ao bom deus. foi seu primeiro tento entre os profissionais da casa.
já deu pra rapaziada respirar um bocadinho. só não estava valendo repetir a patetice do engenhones. quando saímos na frente de maneira semelhante - no comecinho, bem facinho - e logo estávamos entregues à soberba e à b*ndamolice. aquele azougue de nome siloé tratou de manter nossa defesa bem acordada. e bem ocupada. o pobre wellington foi constantemente humilhado pelo corisco. em todo o primeiro tempo, só me lembro de siloé ter perdido uma única dividida. e foi para o williams - claro.
qualquer perigo remanescente de um maracanazzo nordestino - um domingazzo - veio por terra aos dois minutos da etapa final. o rodrigo alvim, em vez de chuveirar pela sexagésima oitava vez, cortou para dentro e derivou no rumo da meia-lua. ali a bola foi parar no neves. o camarada deu um corte desmoralizante num zagueiro e tocou para deivid ampliar. só assim mesmo, né deivid? sozinho na área, o goleiro batido, de frente pra meta. sete metros de largura por dois metros e pouco de altura à sua disposição...
ah. há a dificuldade imensa de se marcar um golzinho. deivid e wanderley e ilustre companhia perderiam oitocentos gols no domingão. no primeiro tempo, e no segundo tempo também.
a diferença principal do jogo de hoje para aquele outro é que o horizonte foi arriando nesta segunda etapa. o siloé já não era mais visto, talvez consumido pelas próprias chamas. apenas diego palhinha e elanardo apareciam ali e acolá. deu até pro luxerley dar uma poupada no neves para a final de domingo. e por falar em final de domingo...
se o ataque não toma jeito, se wellington também não, pelo menos deu para sentir mais vida no nosso meio de campo. pois considere o seguinte, meu caro... williams jogou muito. e renato pelé talvez tenha reencontrado sua verdadeira vocação: hoje jogando de segundo homem, um pouco à frente do williams, um passo atrás de bottis e neves. o bottinelli, aliás, confere uma tranquilidade ao setor que pode parecer morosidade mas que me parece casar bem com o estilo mais explosivo e cortante de thiago neves. com bottis por ali, neves pôde se dedicar mais ao ataque. e assim ficou bem interessante. sem maldonado e sem ronaldinho gaúcho, talvez luxerley agora encontre um meio de campo decente. ironia?