segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"um chutão só"

A simples escalação elucidava os motivos daquelas conquistas. Raul, Leandro, Mozer, Júnior, Andrade, Adílio, Zico, Tita, Nunes... Feliz do clube que consegue reunir essa geração. Feliz e raro – raríssimo.
Além dos principescos valores individuais, um time que, coletivamente, jogava, como se diz, por música. Fruto da filosofia implantada anteriormente por um técnico, Cláudio Coutinho, já então libertado das limitações, dos temores e das amarras que o acompanharam na direção da seleção de 78, numa Copa digna de ser esquecida. No Flamengo, Coutinho se transformou – e transformou o time bicampeão estadual (78/79) que, logo ao primeiro apito, partia pra cima e resolvia a parada sem cerimônia, sob a regência no meio de campo de Paulo César Carpegiani, que se inspirou nele, Coutinho, para dirigir o time depois, como treinador, exatamente na conquista da Taça Libertadores e do Mundial de Clubes, em 81.
Chegando a esse ano histórico, eu queria fazer uma aproximação com o presente. Para isso, revi o jogo em Tóquio, os dois passes magistrais de Zico muito bem finalizados por Nunes, e o outro gol, de Adílio, um jogador de meio de campo aproveitando rebote na pequena área do Liverpool. Mas olhem o detalhe: 90 minutos decisivos, nenhum chutão de jogador do Flamengo para a frente. Nenhum! Nem do meio de campo, nem dos zagueirões Marinho e Mozer. Nem do goleiro. Aliás, minto. Raul, mestre em saída de bola para os laterais Leandro e Júnior – e que laterais! – deu, no fim, um único chutão, já em comemoração à vitória. Um chutão só, nada mais. (...)
Zico, Adílio e Andrade representavam, os três, esses meio-campistas que jogavam bola em vez de dar pancada. A bola do Flamengo fluía, deslizava, corria pelo campo, redonda, macia, leve – mortal para o adversário. Não havia defesa nos anos 80? Pois várias vezes vi, naquele jogo, Andrade, Adílio e até Zico tirando bolas da área do Flamengo. E, assim como defendia, o time partia para o ataque em peso, para se juntar a Nunes na hora do gol. Um time compacto, atuando em bloco, jogadores próximos uns dos outros, tabelando, triangulando, no ritmo vivo do melhor futebol.

(da coluna de ontem de fernando calazans, em o globo)


estádio nacional de tóquio, 13 de dezembro de 1981