sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

"grandes jogos contra as velhas freguesias, parte 1", por andré giusti

Desculpem-me demais torcedores do Brasil, mas outros clássicos regionais não conseguem ter o charme dos jogos em que os grandes do Rio se enfrentam. Quando o Mengão ‘tá em campo, então, aí o “Maraca” é luxo só.
A esperança de que o futebol carioca realmente ressurja dos vexames da última década carrega também a expectativa de revivermos os grandes duelos entre os quatro grandes, que até os anos 90 enchiam os olhos das platéias até mesmo fora do Rio.
Em meus 35 anos de lembranças futebolísticas e rubro-negras, destaco na memória alguns jogos do Flamengo contra o Vasco, Fluminense e Botafogo. Quase todos pelo campeonato carioca.
Começo por Flamengo e Vasco, em que a rivalidade estufa as veias. E é claro que em minha memória de quarentão, a primeira das melhores imagens do clássico que vem à memória é a do Rondinelli correndo para dentro da área, acenando pro Zico, e em seguida subindo nas costas do Abel e acertando um “cabeçaço” no ângulo do Leão. Tóquio começou ali, meus caros, no dia 3 de dezembro de 1978.
O segundo Flamengo e Vasco foi o do ladrilheiro. O Vasco não tinha um time à altura do nosso, mas era aguerrido e vinha de duas vitórias improváveis numa melhor de três na decisão de 1981. No terceiro jogo, eles precisavam apenas do empate, mas o Flamengo, abalado com a recente morte de Cláudio Coutinho, vencia por 2 x 0, com gols de Nunes e Júnior. Faltando uns cinco minutos, o Vasco diminuiu e veio pra cima, e pelo que me lembro com chances reais de empatar. Foi quando do subterrâneo mundo da geral, surgiu um ladrilheiro correndo para o campo e parando o jogo. Até hoje a choradeira geral diz que o cara foi pau mandado da máfia do Márcio Braga. Umas duas semanas depois, o Mengão massacrou o time da terra dos Beatles e conquistou o mundo.
O terceiro Flamengo e Vasco foi, certamente, o do gol de falta do Pet, o grande nome da Gávea pós era Zico & Cia. Esse jogo tem uma relação marcante com minha vida particular. Era o dia 27 de maio de 2001 e eu dirigia pela estrada, indo de Brasília para o Rio, onde voltaria a morar depois de três anos na capital do país.
Saí de Brasília bem cedo e – confesso – desligado do jogo. Primeiro porque a cabeça flutuava na vida nova na terra natal. Segundo, porque eles tinham mesmo mais time naquela época e poderiam perder por até um gol de diferença. Passando por Juiz de Fora, me deu o estalo: vou parar e saber do jogo. O coração disparou quando, ainda estacionando, vi na TV a imagem da nação em delírio e pressenti que alguma coisa muito boa estava contrariando as probabilidades daquele jogo.
Acreditem, amigos, cheguei no exato instante em que o Hélton buscava lá no fundo do balaio a pelota que deu ao Mengão o quarto tri da história do clube. Fui buzinando de Juiz de Fora ao Rio, enlouquecido.
Cheguei à cidade e no meu reencontro com o Rio, fui abraçado pela histeria rubro-negra.
A seguir, três memoráveis Flamengo e Botafogo.

andré giusti é escritor e jornalista
http://www.andregiusti.com.br/blog/

estádio mário filho, rio de janeiro, três de dezembro de 1978