sexta-feira, 27 de maio de 2011

"dez anos de um gol de falta" (o testemunho do giusti)

Eu tenho uma história pessoal com o gol do Pet na final de 2001. Após três anos morando em Brasília, eu voltaria a viver no Rio, minha amada cidade natal. Peguei a estrada bem cedo, e durante todo o dia não me acossaram as preocupações com o jogo. Confesso que abstraí, como se diz muito de uns tempos pra cá. O Vasco era mais time e tinha vantagem de perder por um gol. Só que quando deu umas quase seis da tarde, uma comichão me assaltou no meio da BR-040, já em Juiz de Fora. Parece que adivinhei a hora certa de parar em um posto de gasolina para saber quanto estava a peleja, pois pela hora a pelota ainda rolava.

Quando encostei no estacionamento e ainda dentro do carro vi que a TV enquadrava a nação rubro-negra em delírio, abri a porta e creio mesmo que ao sair nem desliguei o motor. O Pet havia acabado de guardar a redonda no balaio da vascaínada, sacramentando nosso quarto tri-campeonato. Enlouquecido, pulei e berrei até que a última gota de ar fosse embora e me deixasse roxo. Depois da volta olímpica, entrei no carro e fui buzinando e gritando pela estrada até o Rio.

Esse gol do Petkovic, na minha opinião (e eu vi os dois), foi mais importante até que o do Rondinelli em 78. 23 anos antes, o gol do deus da raça liquidou a fatura, mas aquela era apenas uma decisão de turno, que acabou dando o campeonato antecipado ao Flamengo, vencedor da Taça Guanabara. Mas se não fosse ali, naquelo jogo, fatalmente seria nos dois que viriam, pois tínhamos mais time naqueles já longínquos 70’s. Em 2001, o Vasco se livraria do terceiro vice seguido (é bom que sempre se diga) com a patota do Eurico levantando o caneco mesmo perdendo por 2 x 1. Além do mais, o gol foi de falta, nem tão perto da área, quando restavam minguados dois minutos de esperança para a nação. O que pesa muito a favor do gol do Rondinelli, além do próprio gol em si, é o fato de ele ter cortado a fita da era de ouro do Flamengo. O do Pet, ao contrário, foi sucedido por uma estrondosa série de fracassos em nível nacional entre aquele mesmo ano de 2001 e até por volta de 2005, período em que nossa missão era lutar contra o rebaixamento no Brasileirão. Mas é claro que isso não foi culpa do Gringo.

Petkovic foi o maior camisa 10 da Gávea depois que o único e ingualável Zico, Zicão, Zicaço (vai uma homenagem ao Jorge Curi, falecido locutor da Rádio Globo AM do Rio) eternizou o número nas costas do manto sagrado. E, modéstia à parte, digo isso com a autoridade de quem lembra do Zico com 20, 21 anos metendo um golaço de falta contra o Fluminense, falta, aliás, cobrada da mesma circunscrição que a do Pet décadas depois.

Mas o Tri em 2001 não é a única credencial que Petkovic apresenta para deixar os campos e entrar para a história do mais querido. Ele foi decisivo, quando ninguém acreditava que seria, no Brasileiro de 2009. Os gols contra o Palmeiras e o Atlético (olímpico, lembram?) e o cruzamento na cabeça do Angelim no gol do título resumem o que o gringo fez para que a dívida moral do Flamengo com ele ficasse quase igual à bolada que o clube ainda lhe deve.

Acho triste que a carreira de um jogador de tanta importância se encerre com a esforçada colaboração de um técnico em acentuada decadência. Pior é ler que ele não serve mais para o esquema em vigor na Gávea. Claro, claro, quem serve é o Deivid.

andré giusti é escritor e jornalista


"O Pet havia acabado de guardar a redonda no balaio da vascaínada"