sexta-feira, 16 de abril de 2010

"sem tesão não há solução" (a resenha do giusti)

O maior Flamengo de todos os tempos primava pela qualidade técnica. Não eram partidas, eram espetáculos. A tal piada de que torcedor de um time que joga bonito não paga ingresso, paga couvert artístico, eu conheci naqueles idos de 1981, inventada pelo torcedor do Mengão.
Pois bem, quando precisava, aquela orquestra transpirava sangue. Lembro-me do Rondinelli colocando a cara na chuteira de um jogador do Atlético Mineiro para evitar um gol no primeiro jogo da final de 80. O Marinho, que entrou no lugar do Deus da raça, dava chutão se fosse o caso. Mesmo o Júnior, com toda a categoria, vi dando muito carrinho – sem ser desleal, é claro – para roubar aquela bola que parecia perdida na linha de fundo.
O verdadeiro espetáculo do Flamengo é vontade, é entusiasmo. Se houver técnica, muito que bem. Senão, vai sem ela mesmo, pão sem margarina, café sem leite.
Em 1992 tínhamos um time limitado. Levamos porque, como diz o mala do Galvão, colocamos a faca nos dentes. Em 2007 chegamos em terceiro saindo da lanterna porque se comemorava até falta que o Bruno defendia. No ano passado também, levamos o hexa porque tinha gente com a veia do pescoço estufada de berrar.
De que adianta ter mais time que as Universidades se estão entrando em campo com passinho de quem não quer “peidá”, como diz O Analista de Bagé, do Veríssimo? Na quarta-feira, o Juan não foi numa bola na qual poderia ter corrido, ao menos pelo aspecto moral. Esse lance, para mim, foi emblemático da cara de nojinho que andam fazendo nas quatro linhas.
Acho que até dá para classificar, mas só se colocarem pressão nas coronárias, porque só desse jeito a massa vem junto, e aí sim, o espetáculo está garantido.

andré giusti é escritor e jornalista
http://www.andregiusti.com.br/blog/